Coluna: Diário de uma editora feminista
* A bandeira feminista se tornou um campo fértil para o lucro
Desde que abri a Editora, há pouco mais de um ano e meio, vivenciei muitas situações. Das boas, boas lembranças e amizades; das ruins, lições. E o título da postagem de hoje ilustra o que eu tenho observado nas minhas vivências editoriais.
O Feminismo é um campo muito controverso — e eu não estou falando dos homens. Daqueles que tentam desmerecer as lutas das mulheres por existência e dignidade (pois os Feminismos — sim, eles são muitos — constituem movimentos político-econômico-sociais de legitimação e legitimidade dos direitos da mulher). Eu estou me referindo, infelizmente, às mulheres.
Àquelas mulheres que, mesmo dizendo que são feministas e que apoiam a causa — e que tiram fotinhos nas manifestações populares só para depois postar no Facebook, no Instagram, no Twitter, e ganhar “likes” — replicam as estratégias de propagação do patriarcado: com outras mulheres. Sim. Mulheres que fazem uso da “bandeira feminista” para se aproveitar dos grupos feministas e, com eles, obter lucros, prestígio e visibilidade; mas que, em um ato de clara traição, nos bastidores, fazem o jogo masculinista — difamam as mulheres com as quais estiveram (ou estão) em contato e que lhe dão suporte. Difamam as mulheres que fingem apoiar.
Na minha casa editorial — feminista de discurso e de prática, que publica livros escritos exclusivamente por mulheres, a fim de dar Voz e vez para mulheres escritoras, em um campo quase dominado em sua totalidade pelos homens (desde a aceitação de um original para publicação até os prêmios literários) — tenho primado pela curadoria, não apenas dos originais recebidos, como também pelas mulheres que os escreveram. Selecionando mulheres que sejam, na fala e na prática, verdadeiramente feministas. Mas confesso que às vezes cometo erros; e aceito — é com muita tristeza e pesar que noto, após a assinatura do Contrato — aquelas que irão trair, difamar, usar as mulheres que lhe deram a possibilidade de ter Voz em um mundo que lhes quer caladas. E obedientes. Subservientes, divulgando e elogiando, coletando informações para os “amigos”.
Ainda ontem, conversando a esse respeito com uma amiga — Chaya Pasternak, minha amiga de muitos anos, minha confidente — , ela me disse, em bom som: “Nunca deixe ninguém se aproveitar de você, do seu árduo trabalho”.
A fala de Chaya me tocou profundamente; às vezes, a verdade está na nossa frente, mas precisamos que alguém desvele o véu que a encobre. Minha querida amiga fez isso por mim.
Quando será que as “escritoras boazinhas” do patriarcado verão a verdade? Será que verão?
Talvez aceitem, caladas — como sempre foram — as suas realidades.